segunda-feira, 30 de maio de 2011

LIMITE, de Mário Peixoto: poesia visual

O cineasta Mário Peixoto (1908-1992) morreu aos 83 anos de idade sem ter conseguido realizar um segundo filme. Seu único longa finalizado foi Limite, de 1931. Mas foi o suficiente para gravar seu nome entre os grandes realizadores do cinema brasileiro.

Mário Peixoto


Limite é frequentemente listado entre os maiores filmes brasileiros de todos os tempos, e não raro fica em primeiro lugar. Na minha lista pessoal, ele não só é o maior filme nacional, mas o maior filme de todos os tempos.


Mas Limite é um filme que se aprende a gostar aos poucos. Confesso que a primeira vez que o vi, embora o tenha considerado visualmente espetacular, achei um tanto aborrecido. Com o tempo, porém, mudei radicalmente de opinião, e hoje o vejo como uma experiência sensorial sem paralelo na história do cinema. A força de suas imagens é tão arrebatadora, que praticamente dispensa o uso daqueles intertítulos típicos do cinema mudo. Tudo fica explícito através das imagens, as palavras se tornam desnecessárias.


Poucos filmes têm essa capacidade de nos deixar absortos com tanta beleza e poesia desfilando diante dos olhos: O Ano Passado em Marienbad (de Alain Resnais), Soy Cuba (de Mikhail Kalatozov), Asas do Desejo (de Wim Wenders), A Paixão de Joana D’Arc (de Carl T. Dreyer) e Tabu (de F. W. Murnau) são alguns exemplos similares.


A história do filme é bem simples: três náufragos (um homem e duas mulheres), à deriva em um barco no meio do oceano, relatam suas histórias e o que os levou até ali. Todos estão fugindo de alguma situação limite em suas vidas. Todos estão no limite de suas forças.


Limite é provavelmente o único filme brasileiro inspirado pela vanguarda francesa da década de 1920, cujas propostas estéticas ousadas e experimentais deveriam ter levado o cinema a uma direção radicalmente oposta a que se viu logo em seguida, com a chegada do cinema falado, e a inevitável acomodação dentro dos cânones da literatura e do teatro. Com raras exceções, o cinema só voltaria a ser sacudido pelas vanguardas a partir da década de 1960.


O filme estreou em 1931 em uma única sala de cinema no Rio de Janeiro, mas nunca foi lançado comercialmente. Na década de 1950, Plinio Süssekind e Saulo Pereira de Mello iniciaram um processo de restauração do filme, concluído no fim da década de 1970, quando o filme finalmente foi lançado. Uma nova restauração vem sendo realizada há mais de cinco anos, sob a supervisão de Saulo Pereira de Mello, diretor do Arquivo Mário Peixoto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário